#3 Economia e (neo)colonialismo

Neste número 3 da revista Outras Economias escolhemos falar de (neo)colonialismo, um tema profundamente interligado com o percurso do CIDAC que celebra este ano 50 anos de existência. Com raízes na luta anti-colonial, os primeiros anos da sua intervenção tiveram um foco muito particular na luta pelo direito à autodeterminação e no exercício da solidariedade entre os povos, na cooperação para a construção dos novos países independentes. Da prática experimentada, das reflexões com pessoas e organizações com quem fomos partilhando este caminho, a economia foi naturalmente ganhando centralidade enquanto tema, trabalhado de múltiplas formas, numa perspetiva de construção de direitos económicos e sociais.

Todos deveríamos compreender que a Libertação da Pátria é apenas a metade do objetivo da independência. Porque depois da independência, a libertação do Povo constitui a outra metade do objetivo da independência. Xanana Gusmão

Nesta edição procurámos trazer alguns elementos que nos permitem pensar como é que, a par de uma globalização crescente, e de situações coloniais ainda em disputa (como é o caso do Sahara Ocidental), novas formas de dominação económica vão ganhando força, permitindo às antigas potências coloniais, diretamente ou através de instituições multilaterais, exercer o controlo sobre as economias dos novos Estados independentes, perpetuando assim relações de poder e desigualdades históricas.

Reunimos várias perspetivas que procuram pensar o papel da economia nas estruturas coloniais e nas modernas formas de controlo e exploração. Revisitámos as propostas alternativas surgidas inclusivamente no contexto das lutas de libertação colonial e discutimos o sentido que podem fazer na atualidade e, por fim, propomos um olhar sobre casos concretos, que ilustram a forma como persistem velhas práticas de dominação que condicionam as escolhas dos povos. Como já vem sendo hábito, incluímos também uma proposta pedagógica que permite abordar os temas da revista em contexto educativo. À medida que vamos percorrendo os diferentes artigos deste número, vamos encontrando vários textos poéticos que escolhemos como ilustração, propondo assim outras formas de expressão para os temas da revista.

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No fundo de mim mesmo

No fundo de mim mesmo
eu sinto qualquer coisa que fere minha carne,
que me dilacera e tortura …
… qualquer coisa estranha (talvez seja ilusão),
qualquer coisa estranha que eu tenho não sei onde
que faz sangrar meu corpo,
que faz sangrar também
a Humanidade inteira!
Sangue.
Sangue escaldante pingando gota a gota
no íntimo de mim mesmo,
na taça inesgotável das minhas esperanças!
Luta tremenda, esta luta do Homem:
E beberei de novo – sempre, sempre, sempre –
este sangue não sangue, que escorre do meu corpo,
este sangue invisível – que é talvez a Vida!

Amílcar Cabral

#3 Economia e (neo)colonialismo

Conselho Editorial: CIDAC (Cecília Fonseca, Cristina Cruz, Maria Fera, Stéphane Laurent)

 

Contribuíram para este número:

Artigos: AAPSO, Alexandre Abreu, Ali Mohamed, Celestino Gusmão Pereira, CIDAC, Jessica Fernandez, Lemhamid Sidi

Traduções: AAPSO, CIDAC

Foto artigo sobre Sahara Ocidental: Rafael Lomba

Podcast com: António Tonga, Apólo de Carvalho, Ivânia Vera Cruz e Nael d’Almeida. Edição: CIDAC

Banda Desenhada: Hessel (guião), Inês Mendes (desenho)

Conceção gráfica: Carlos Guerreiro

Paginação: CIDAC