#4 Inovar ou morrer? Inovação, tecnologia e economia

Não há crescimento sem inovação! A Inteligência artificial é o futuro! Os dados valem ouro! São algumas das expressões que povoam o nosso quotidiano e que, muitas vezes, nos escapam na sua natureza e no impacto que têm na nossa vida. Inovação e tecnologia são palavras quase auto-explicativas e consensuais e, frequentemente, aceites sem perspetiva crítica.

Dada a omnipresença da inovação e da tecnologia na nossa vida, em conjunto com a Oficina Global, construímos a quarta edição da revista Outras Economias com o intuito de contribuir para desnaturalizar estas palavras e os processos a elas associados.

O que é inovação, qual a história do conceito, que acepções teve e tem, são as linhas que tecem o texto da Ana Luísa Silva, que dá o pontapé de saída deste número. Em conversa com Theo Papaioannou exploramos as ligações entre inovação e desenvolvimento e que tipo de inovação precisamos para construir relações sociais e económicas justas. Desbravamos com Gilles Deleuze e Luís Bernardo o nexo entre as tecnologias e as relações sociais e políticas. E Cory Doctorow – numa republicação do Transnational Institute – fala-nos da estrutura económica em que assenta o aparato tecnológico mundial, em particular das chamadas GAFAM.

Procuramos trazer igualmente outros significados, práticas e visões da inovação e tecnologia. A inovação que emana do conhecimento das comunidades, é o caso que nos chega do Brasil num texto da Ana Dubeux. O DYT (faça você mesmo), a LowTech (baixa tecnologia) – tecnologias que podemos criar com as nossas mãos, a visão utópica e solar da tecnologia, e o software livre são exemplos concretos da tecnologia enquanto bem comum. Aproveitando a realização da Festa do Software Livre, que aconteceu em Aveiro em outubro deste ano, trazemos um testemunho fresquinho sobre o que se anda a fazer neste campo. E ouvimos ainda três participantes em projetos e coletivos que nos podem inspirar para tentarmos mudar, devagarinho, os nossos hábitos tecnológicos e digitais.

A ficção científica que, geralmente, explora caminhos futuros – utópicos e distópicos – foi uma das inspirações para este número. Gostaríamos de ter publicado um ensaio sobre a imaginação de uma escritora icónica, a Ursula K. Le Guin, mas não nos foi dada autorização. Quando a distopia da propriedade intelectual se torna realidade… Mas tal não nos impede de convidar as nossas e nossos leitores a lerem (e a criarem!) ficção científica, procurando nela esses caminhos, com um olhar particular para as relações económicas. Esse é precisamente o convite de uma das propostas pedagógicas que construímos para ajudar as nossas e nossos leitores a darem asas à sua imaginação ao explorarem os temas deste número, em contexto educativo formal e/ou não formal.

Chamamos ainda a atenção para a secção “Alternativas Económicas” em que poderá conhecer – e quem sabe envolver-se – em experiências concretas de práticas económicas, pautadas por outros valores como a cooperação e a solidariedade.

Aguardamos ansiosamente pelo seu feedback a este e aos números anteriores e, se quiser receber informações sobre as atividades de animação (círculos de leitura, apresentações, etc.) da revista, faça a sua subscrição – gratuita – aqui.

Em colaboração com:

“A imaginação não é um meio para ganhar dinheiro. Não tem lugar no vocabulário do lucro. Não é uma arma, apesar de todas as armas terem nela a sua origem e de o uso das armas, ou o seu não-uso, dependa dela, tal como acontece com todas as ferramentas e os seus usos. A imaginação é uma ferramenta essencial da mente, uma forma fundamental de pensar, um meio indispensável para nos tornarmos e permanecermos humanos.”

“Os seres humanos sempre se juntaram em grupos para imaginar a melhor forma de viver e seguir esse plano com a ajuda uns dos outros. A função essencial da comunidade humana é chegar a um entendimento sobre o que precisamos, o que deve ser a vida, o que queremos que as nossas crianças aprendam, para depois colaborarmos na aprendizagem e no ensino, para que nós e elas possamos continuar da forma que achamos ser a mais correta.”

“No entanto, quando as alternativas proliferam, aqueles que têm a responsabilidade de ensinar não conseguem encontrar consenso social e moral suficiente sobre aquilo que devem ensinar – do que precisamos, o que deve ser a vida. No nosso tempo de enormes populações expostas continuamente a vozes, imagens e palavras usadas para obter lucro comercial e político, há demasiadas pessoas que querem e podem inventar-nos, ser donas de nós, controlar-nos e moldar-nos através de media poderosos e sedutores. É pedir demasiado a uma criança que encontre um caminho através de tudo isso sozinha.

Ninguém consegue fazer assim tanto, na verdade, sozinho.”

Ursula K. Le Guin

#4 Inovar ou morrer? Inovação, tecnologia e economia

Conselho Editorial: CIDAC (Cecília Fonseca, Cristina Cruz, Maria Fera, Stéphane Laurent); Ana Luísa Silva e Luís Bernardo (Oficina Global)

Contribuíram para este número:

Artigos: Ana Luísa Silva; Ana Dubeux; CIDAC; Luís Bernardo; Maria Inês Santos; Transnational Institute (republicação)

Banda Desenhada: Guillaume Lion (republicação). Lettering em português: Carlos Guerreiro

Podcast com: Benjamin, Tiago Carreira e Tomás Barão. Edição: CIDAC

Vídeo com: Theo Papaioannou. Edição: CIDAC

Traduções: CIDAC e Oficina Global

Conceção gráfica: Carlos Guerreiro

Paginação: CIDAC