#7 Agri-culturas – os campos em disputa?

Uma necessidade básica comum aos seres vivos, entre eles os humanos, é comer. Com composições e variedades diferentes, e também em quantidades diferentes, os seres humanos alimentam-se. Em vários momentos históricos e em muitas geografias esse alimento – para o corpo e para a alma – escasseia. A fome é um problema perene, que justifica muitas políticas e até revoluções. Desde revoluções populares a revoluções pintadas de “verde”. A fome foi a justificação para uma das maiores transformações na forma de fazer agricultura: a sua industrialização.

Hoje, não podemos pensar a alimentação sem nos questionar: quem nos alimenta? O que nos alimenta? Quem ganha com o que nos alimenta? O que produz a agricultura?

Neste número da revista Outras Economias, construído com Leonor Coimbra e Pedro Horta, percorremos e exploramos alguns prismas que podem ajudar a responder a estas perguntas: desde o campesinato como sujeito político, na história e no presente, ao complexo agroindustrial que produziu a sua aniquilação e a alimentação “junk”. Ouvimos pessoas agricultoras a contarem, em primeira pessoa, como veem o seu trabalho. Falámos com organizações e movimentos, na Guiné-Bissau e na Colômbia, sobre como é que os e as camponesas têm acesso a terra, um bem comum que, como tantos outros, na era do capitalismo financeiro é tratado como um “asset”. Esta realidade não está longe de nós, ela está bem à frente dos nossos olhos no Alentejo. Também no Alentejo, o mito que a industrialização da agricultura (que toma nomes curiosos como “agricultura de precisão”, “agricultura smart”) iria produzir mais com menos dores de costas desfaz-se como castelos nas nuvens: a exploração humana e laboral produz o azeite que temos à mesa e as “berries” do nosso contentamento.

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O modelo agrícola hegemónico produz pouca comida, muitas “commodities” e até combustível. Produz, sobretudo, destruição dos ecossistemas, desde a água até à diminuição da diversidade de sementes, que são fonte de vida. Porém, por todo o mundo, pessoas camponesas, pescadoras, pastores, pessoas indígenas lutam pela vida, pela sua e pela nossa. Da Palestina, passando pela Colômbia ao Equador, até a Covas do Barroso, as suas lutas – que não abrem os telejornais – são quotidianas. Prestamos solidariedade ao companheiro Benjamín Macas (que contribuiu para a OE#7com este texto) que está a ser perseguido, tal como vários e várias líderes, militantes camponesas/es e indígenas, no Equador, devido à organização de greves e manifestações nacionais.

A agricultura e a terra são campos em disputa, mas também o são os mares e os rios, de que não falamos neste número, mas não esquecemos que também eles nos alimentam; e as florestas e os bosques, que vemos arder por fogo posto nas acendalhas de monoculturas de eucaliptos. Compreender que o ato de comer está enredado numa teia que nos liga a todos/as é essencial para semearmos novos ventos, organizados em caixas alimentares, AMAPs, circuitos curtos ou simplesmente voltando a pôr as mãos na terra, em escolas camponesas, por exemplo, como ilustrado pela experiência timorense.

Os e as camponesas constroem, há décadas, um dos maiores movimentos sociais mundiais: a Via Campesina. Em setembro último, organizaram, em aliança com outros movimentos, o 3.º Fórum Nyeleni repondo na agenda e atualizando uma das suas propostas mais fortes: a Soberania Alimentar.

Sendo que o alimento é cultura, pulverizamos este número com (boa) música, escolhas musicais do conselho editorial e de algumas das pessoas que contribuíram para este número.

À semelhança dos números anteriores, convidamos educadores e educadoras a explorarem os temas desta edição através destas propostas pedagógicas.

Se desejar receber informações sobre as atividades de animação (círculos de leitura, apresentações, oficinas, etc.) da revista, faça a sua subscrição – gratuita – aqui.

#7 Agri-culturas – os campos em disputa?

Conselho Editorial:  CIDAC (Cecília Fonseca, Cristina Cruz, Maria Fera, Stéphane Laurent); Leonor Coimbra; Pedro Horta

Contribuíram para este número:

Artigos: Benjamin Macas, CIDAC, João Ruivo, Leonardo F. Soares e Jenito Santana, Patricia Dopazo e Gustavo Duch (republicação), Pedro Horta, Silvia Perez-Victoria, Simon Kraemer

Ilustrações: Inês Mendes, Pedro Horta   Guião da BD: Nuno Belchior e Inês Mendes

Podcast com: Jorge Ferreira e Maria Helena Marques.    Edição: CIDAC

Vídeos com: Aida Fernandes, Alberto Matos, Ana Ramos, Ana Margarida Guerra e Paula Serrano, Gerardo Amador Caballero, Jerónimo Silva, Lúcia Veloso, Marisa Esteves, Miguel Barros, Silvia Federici.     Edição: CIDAC

Traduções: Aurora Santos, CIDAC, Elisa Vasquez.      Revisão de tradução: Monica Chiquillo

Conceção gráfica: Carlos Guerreiro

Paginação: CIDAC