Laboratórios fabulosos…
CIDAC
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Poderíamos pensar que Fab-Lab significa fabulous laboratories, mas afinal não, significa Fabrication Laboratories. Mas não são menos fabulosos por isso…
Um Fab-Lab é um espaço aberto ao público, inserido num território e numa comunidade específica, onde se encontram ferramentas analógicas e digitais, impressoras 3D ou máquinas de recorte laser, por exemplo, permitindo aos membros conceberem e realizarem projetos concretos. Estas “Oficinas de Fabricação” são abertas a quem queira aprender um modo de produção, experimentar novas ideias ou transmitir saberes a outras pessoas. As dimensões colaborativas e coletivas são centrais neste tipo de espaços assim como o princípio de partilha dos saberes. Aí podem-se cruzar criadores/as diletantes, especialistas, designers, artistas, engenheiras/os, jovens e velhos/as… Um Fab-Lab pode ser de base comunitária ou inserido numa instituição de ensino superior.
Os Fab-Lab nasceram em 2001, no seio do MediaLab do Massachusetts Institute of Technology (MIT), um laboratório que conjuga design, multimédia e tecnologia e que é conhecido pela sua publicação Wired, que reflete sobre o impacto das novas tecnologias sobre a cultura, a economia e a política. A partir de 2009, os promotores dos Fab-Lab criaram a FabFoundation que tem o papel de acompanhar e dinamizar esta dinâmica e de garantir os seus 4 princípios fundamentais:
– Acesso público – tratando-se de democratizar o acesso à tecnologia e a ferramentas, o acesso publico deve ser garantido gratuitamente ou contra serviços ou outras formas de troca.
– Subscrição e promoção da carta de princípios dos Fab-Lab.
– Disponibilização de um conjunto básico de ferramentas que permitem que um processo elaborado num Fab-Lab possa ser reproduzido ou continuado noutro, qualquer que seja a parte do mundo, máquina de corte laser 2D e 3D, impressora 3D, fresadora digital de alta resolução, aparadora de madeira de grande dimensão… Inclui também um recurso sistemático a software livre. É importante notar que os Fab-Labs fornecem apoio técnico para o uso destas máquinas.
– Participação na rede global de Fab-Labs enquanto comunidade de partilha de conhecimento e aprendizagens.
Mas os Fab-Labs não aparecem do nada, do espírito iluminado de um cientista do MIT. Surgem da cultura maker, pessoas que se re-apropriam da tecnologia, produzem os seus próprios objetos numa perspectiva de autonomia, do DIY – Do It Yourself, no seio de espaços colaborativos onde se encontram ferramentas e competências, os makerspaces. Este movimento inscreve-se na interseção entre a cultura do software livre e do open-source, por um lado, e da produção artesanal, por outro, fugindo a tudo o que é produção de massa. Podemos dizer que o Fab-Lab é um tipo específico de makerspace, que se rege pela carta do MIT. E, se aprofundarmos a genealogia destas dinâmicas, iremos dar à cultura e à ética hacker, que viu ao longo dos anos 90 propagarem-se os hackerspaces na senda do Chaos Computer Club.
Estes modelos de produção subvertem (potencialmente) o modelo económico hegemónico, permitindo uma (re)localização da produção, uma possível adaptação às necessidades locais que a produção massificada não permite, evitando, por exemplo, o desperdício. Assentam na partilha de conhecimentos, contra a lógica dos monopólios e da competição e nas capacidades coletivas, contra o individualismo. O recurso ao open-source permite ter acesso às lógicas profundas de funcionamento de um sistema, partilhá-lo e melhorá-lo, assim como o uso do copy-left e das licenças de tipo creative commons, permitem demonstrar que a vida é possível fora das patentes e da propriedade intelectual.
“Trata-se de criar em vez de consumir.” “O desaparecimento das ferramentas do nosso horizonte educativo é o primeiro passo rumo à ignorância total do mundo de artefactos no qual vivemos.” “O que as pessoas comuns fabricavam ontem, hoje compram-no. O que concertavam eles próprios, substituem integralmente.”
Matthew B. Crawford, Shop Class as Soulcraft: An Inquiry Into the Value of Work, Penguin Press, 2009
Vulcano. Créditos: Melio / Rui Paulino