Universidades, Agroecologia e Economia Solidária:

construindo ciência a serviço da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil

Ana Maria Dubeux Gervais
Universidade Federal Rural de Pernambuco, Programa de Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial (Brasil)

Tempo aproximado de leitura: 22 minutos

A crise civilizatória tem sido uma questão nos dias atuais. Olhando os diferentes contextos mundiais, percebe-se um enorme processo de transição em marcha, que possui contornos multidimensionais, gerando problemáticas controversas para a ciência. Como forma de contornar, ou enfrentar, tal processo, a ciência tem sofrido, por se alimentar de uma lógica que: a) divide a realidade em pequenos pedaços dificultando a compreensão do todo; b) homogênea; c) linear; d) que não permite o diálogo entre os diferentes tipos de conhecimento; e) que separa aquilo que estudamos daquilo que pensamos ou sentimos; f) que obedece às solicitações do capitalismo, ignorando as reais necessidades da população. Enfim, uma lógica que é excludente para grande parte da sociedade, cuja lógica é a da vida.

O capitalismo esmaga as diferentes formas econômicas existentes e há, na sociedade, um sentimento que se não conseguimos consumir como os outros somos menores, pobres, quase sub-humanos. Isso reflete o que a ciência nos impõe como forma de pensamento, inclusive no que se refere à alimentação. Temos que comer homogêneo, barato e não local, rápido, sem pensar nos malefícios que a alimentação não saudável nos traz. Tanto no Norte quanto no Sul, cientistas e atores sociais têm publicamente avançado na perspectiva de construir uma espécie de “desobediência” a essa lógica de funcionamento da ciência, buscando outras formas de construí-la. Para isso, precisamos ampliar as possibilidades de construir conhecimento a partir da lógica de enredamento entre o conhecimento científico e popular, valorizando os “tesouros” invisíveis do saber popular capazes de propor alternativas reais às problemáticas atuais.

Apesar de ter sido definida como um direito humano fundamental desde 1948 pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) está longe de ser uma conquista para todas as populações do planeta. A fome, a obesidade, doenças cardiovasculares, entre outras manifestações, são provas de que a questão do acesso ao alimento de qualidade é um tema de suma importância para a humanidade. Como construir na sociedade uma outra lógica alimentar, onde passemos a estimular o consumo dos alimentos produzidos no local, a partir da cultura alimentar de cada povo?

Nossa proposta nesse texto é de olhar, ainda que de forma rápida, para o contexto brasileiro, onde diferentes experiências, normalmente articuladas entre as universidades e os movimentos sociais, têm buscado construir outra forma de fazer ciência, a partir de processos coletivos de construção do conhecimento. Mais especificamente, buscaremos analisar experiências construídas com o campesinato em torno da questão da produção de alimentos na perspectiva da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SSAN), a partir da economia solidária. Na articulação entre o conhecimento acadêmico e as famílias camponesas presentes em milhares de comunidades de assentados da reforma agrária, indígenas, quilombolas1, pescadores, ribeirinhos2, entre outros, temos caminhado na direção da construção de uma ciência inclusiva, que repense os conceitos de inovação, tecnologia, educação e principalmente de construção do conhecimento, que perpassa todos os anteriores.

1 Quilombolas são os territórios e os grupos sociais compostos por descendentes dos Quilombos, comunidades formadas por pessoas escravizadas que conseguiam fugir, durante o período da escravatura no Brasil e em toda a América do Sul e Central, e aí resistiam e lutavam pela liberdade.

2 Comunidades que vivem ao longo dos rios e cuja vida está ligada ao ecossistema dos mesmos. Tal como outras comunidades tradicionais, são reconhecidas e protegidas pela Constituição brasileira.

A ciência e a produção de alimentos

3 O positivismo defende a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro. De acordo com os positivistas, somente se pode afirmar que uma teoria é correta se ela for comprovada através de métodos científicos válidos. Os positivistas não consideram os conhecimentos adquiridos por meio de crenças religiosas, superstição ou qualquer outro, do campo espiritual, intuitivo ou transcendente, que não possa ser comprovado cientificamente. E a comprovação cientifica só existe se dividirmos a realidade em pequenos pedaços para entendê-la, afastando-se o máximo possível para ser neutro, neutralidade que comprovadamente é inexistente.

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“The Ones Who Walk Away from Omelas”, um conto de Ursula K. le Guin, com profunda influência das cosmologias indígenas.

O final da segunda guerra mundial foi emblemático para a produção de alimentos no mundo. É neste período, sob uma motivação aparente de “acabar com a fome no mundo” que os pacotes tecnológicos da “revolução verde” aparecem. No Brasil, é a partir dos anos 60 que o modelo desenvolvimentista agropecuário gerido pelo agronegócio conhecido como revolução verde (FOLGADO, 2014) passa a ganhar força. Ele vem no bojo de um processo de modernização e industrialização implantado pelo governo militar e evidentemente financiado pelas empresas multinacionais americanas e europeias tais como a Ford, Massey Fergusson, Valmet, Bayer, Basf, ICI, Ciba Gaiger, Monsanto, Pioneer, Cargill, dentre outras indústrias. Essas corporações foram responsáveis pela produção de maquinário agrícola, fertilizantes, adubos e outros insumos químicos para a agricultura, revelando uma ligação direta entre a industrialização e o desenvolvimento da produção capitalista na agricultura (Gorgen, 2017). Naquele momento, estávamos falando de um pacote tecnológico de sementes, uso intensivo de agroquímicos, prática de monocultivos, uso de maquinários pesados na produção, desmatamento e queimadas. O pacote, foi amplamente difundido pelas universidades e centros de pesquisa, a exemplo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), e alinhava-se com os governos militares que veem na implementação da revolução verde uma dupla função, conter os conflitos no campo e alargar a produtividade agrícola.

Tal modelo, reproduz também a lógica do positivismo3, acabando com a diversidade nas propriedades rurais, impondo o monocultivo como modo de produção e transformando a cultura alimentar dos povos que passam, pela via do consumo de alimentos ultraprocessados e literalmente “envenenados”, a transformar seus modos de vida. Para o campesinato, a problemática possui uma outra dimensão pois, esse é um modelo que exige capital pois destrói a capacidade da terra de produzir sem insumos externos. Pouco a pouco, as culturas extensivas de milho, soja, cana-de açúcar, as chamadas commodities, ocupam o solo brasileiro e servem de “modelo” para numerosas famílias camponesas que tentam seguir o mesmo rumo, ficando cada vez mais distantes de uma produção saudável.

A opção por um determinado estilo de desenvolvimento rural, que impõe a adoção de um correspondente modelo de modernização da agricultura, trouxeram consigo impactos indesejáveis, e muitas vezes incontroláveis, seja pela forma como se implantou esse processo, seja pela natureza em si das tecnologias difundidas, especialmente no que se refere ao uso dos insumos e dos tipos de manejo de solo que passamos a adotar. A simplificação extremada de nossos agroecossistemas, inerente ao modelo baseado em monoculturas, contribuiu para reduzir a biodiversidade, do mesmo modo que a necessidade de ocupação de maiores áreas e o crescente uso da madeira para diversos fins, principalmente energéticos, levaram ao aumento do desmatamento provocando consequências dramáticas para o ecossistema do planeta (Caporal, 2000).

Enfim, como afirma Caporal (2008), muitos textos já analisaram os impactos da revolução verde e é evidente que esta foi, e ainda é, uma estratégia equivocada. Mas, o que temos que evidenciar é que, ao contrário de sua aparente motivação inicial, ela não contribuiu para resolver o problema da fome no mundo. Cerca de 733 milhões de pessoas passaram fome em 2023, o equivalente a uma em cada 11 pessoas no mundo e uma em cada cinco na África, de acordo com o último relatório O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo (SOFI) publicado em julho de 2024 pelas Nações Unidas. Da mesma forma, novas estimativas de obesidade adulta apresentaram um crescimento constante na última década, de 12,1% (2012) para 15,8% (2022). As projeções indicam que até 2030, o mundo terá mais de 1,2 bilhão de adultos obesos (FAO, 2024).

E como a ciência contribui para que esse quadro se agrave? Apesar das pesquisas cada vez mais numerosas sobre temas tais como o desenvolvimento sustentável, agroecologia, produção orgânica, etc., as instituições que produzem conhecimento nas ciências agrárias ainda estão sob o julgo da revolução verde, produzindo conhecimentos que não levam em conta as principais necessidades das famílias camponesas. Nas faculdades de ciências agrárias, a formação dos e das estudantes continua a ser realizada numa ótica de desenvolvimento de tecnologias para o mercado e para a produção de commodities, reforçando as bases da revolução verde e fortalecendo cada vez mais a relação entre as universidades e o mercado. Nas últimas cinco décadas, o Brasil apresentou uma trajetória crescente de recordes de produção agrícola, superando 300 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas em 2023 (IBGE, 2023).

Fogão de queima limpa construído coletivamente em forma de mutirão no sítio de Juscelino e Célia em Bonito (Pernambuco). Construção dos agricultores em articulação com a Universidade Federal Rural de Pernambuco / Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares / Financiamento CNPq. O fogão funciona muito bem com pequenos gravetos, sem necessidade de lenha ou carvão.
Créditos: Paulo José de Santana

A maior parte dessa produção é destinada à exportação, com pouca diversidade de produtos e é favorecida por políticas fiscais de exportação. O agronegócio será beneficiado pela ciência no delineamento de estratégias para agregar valor aos produtos exportados, incrementando a já relevante participação do setor no PIB nacional (Hungria e Siqueira, 2024). Os mesmos autores vão afirmar que a formação dos profissionais é central para a superação dos desafios da ciência quanto à sua responsabilidade na existência da fome e levantam a necessidade de uma construção transdisciplinar para superá-los. A produção de alimentos necessita de um paradigma tal como a agroecologia, concebida enquanto ciência, movimento e prática (ABA, 2015), que pressupõe inovação e criatividade para “reconstruir a vida nos solos, diversificar, implementar sistemas integrados de produção, permitindo maior resiliência frente a estresses abióticos e estabilidade financeira para o agricultor” (Hungria e Siqueira, 2024, p. 17). A ciência precisa avançar rapidamente para solucionar o dilema da próxima década, que será o de produzir mais com cada vez menos. Menos solo, menos água, menos insumos, menor esforço humano mas, sobretudo, mais inclusão para o campesinato que sofre as consequências graves da ação do agronegócio no planeta.

Uma luz no fim do túnel

Desde a década de 70, as primeiras sementes do movimento agroecológico no Brasil foram lançadas a partir das Comunidades Eclesiais de Base (CEB) organizadas pela igreja católica. Orientadas pelo método ver, julgar e agir, as CEBs organizavam suas ações a partir do cotidiano das famílias, articulando-as às dimensões mais amplas relacionadas à resistência contra o modelo hegemônico de desenvolvimento rural. Petersen e Almeida (2006) destacam a valorização das práticas culturais locais, das iniciativas inovadoras das famílias e das formas de convívio social e cooperação voltadas para otimizar o uso dos recursos locais, para a construção de crescentes níveis de autonomia material e de conhecimentos nas comunidades rurais. Um exemplo claro, é o processo de implantação de agroflorestas em pequenos sítios (média de 1 ha), que aumenta de forma vertiginosa a produção de alimentos para consumo próprio e para comercialização.

A abertura democrática pós-ditadura, nos anos 1980, permitiu a reorganização dos movimentos populares, e favoreceu a constituição de entidades de assessoria aos agricultores e agricultoras e a criação de espaços de discussão e reflexão de âmbito nacional. Nasce aí o que chamamos de “movimento de agricultura alternativa”, encampado por uma multitude de movimentos sociais do campo que vão pouco a pouco aprofundando a reflexão proposta pelas CEB. Nessa época, as lideranças desses mesmos movimentos do campo eram relativamente críticas em relação às tecnologias alternativas afirmando que as mesmas eram: a) uma volta ao passado; b) um aprofundamento da exclusão dos agricultores que tinham o direito de se modernizarem como os empresários do agronegócio; c) o trabalho com tecnologias alternativas revela um viés tecnicista e pouco politizado; d) a luta dos camponeses é uma luta de classes, pela reforma agrária e pelos direitos dos/das trabalhadores/as; e) a organização para a produção com tecnologias alternativas é uma opção pela elitização (Peter e Almeida, 2006). Tais críticas revelam a impressionante força ideológica que os mitos da modernização desempenharam mesmo nas mentes mais comprometidas com transformações estruturais em nossa sociedade. Ao conceberem as tecnologias somente através de sua dimensão instrumental, terminam por reproduzir o discurso da neutralidade das técnicas e a incorporar como real a imagem que a revolução verde tem e veicula de si mesma: a ideia de modelo único, de validade universal, de expressão máxima da eficiência e da produtividade (Petersen e Almeida, 2006, p. 27).

Biodigestor construído coletivamente em forma de mutirão no sítio de António e Léa em Bonito – Pernambuco. Construção dos agricultores em articulação com a Universidade Federal Rural de Pernambuco / Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares / Financiamento CNPq. O biodigestor permitiu à família não comprar mais gás, caríssimo no Brasil atualmente, o que contribuiu para a segurança alimentar da família e ampliou as possibilidades de transformação da produção em doces, compotas, geleias, etc.
Créditos: António Silva

Sem poder aqui reproduzir a totalidade do histórico do movimento agroecológico no Brasil, é interessante observar que, a partir dos anos 90, percebemos a evolução do conceito de “agriculturas alternativas” para o conceito de agroecologia. Diferentes debates, tanto no seio da sociedade quanto da academia provocam pouco a pouco um processo coletivo de experimentação social e um número cada vez mais significativo de famílias passam a se apropriar dos conhecimentos através das redes de fluxo horizontal de comunicação4. Essas redes são permanentemente abertas à participação de novas famílias. O técnico deixa de ser um mero repassador de receitas de manejo agrícola e assume um papel de assessor dos grupos de agricultores-experimentadores. “Os conhecimentos científicos deixam de ser concebidos como a expressão da verdade inquestionável (…) para serem incorporados como insumos para inovação local” (Petersen e Almeida, 2006, p. 31-32).

Inspiradas na experiência do Movimento Campesino a Campesino na América Central, as redes de inovação agroecológica passaram ainda a promover intensamente intercâmbios agricultor(a)-agricultor(a). Esse método de comunicação horizontal potencializou enormemente os processos sociais de inovação agroecológica. Aqui é importante destacar com que conceito de inovação estamos trabalhando. Neste sentido, os conceitos de tecnologia social ou ainda o de ecotecnologia, são fundamentais. No caso do primeiro conceito, compreende-se como uma tecnologia que passa por uma adaptação sociotécnica5, que é inclusiva em todas as etapas de sua construção, que se adequa aos valores e interesses políticos de grupos sociais que participam de sua construção, são respeitosas do meio ambiente e contribuem aos processos de transformação social (Dagnino, 2009). Por outro lado, as ecotecnologias podem ser definidas como um conjunto de tecnologias ecológicas para o manejo integrado dos recursos naturais que não agridem a natureza e dispensam o uso de práticas antrópicas como o fogo, agrotóxicos, máquinas/implementos e fertilizantes inorgânicos. São tecnologias baratas e ambientalmente corretas que substituem o padrão tecnológico da revolução verde. A finalidade das ecotecnologias é aumentar a diversidade de espécies produzidas tanto para enriquecer os agroecossistemas, como também para produzir os meios necessários para a vida dos seres humanos e outros seres vivos (Figueiredo, 2010, p. 169).

4Consideram-se redes de fluxo horizontal de comunicação aquelas onde as decisões são tomadas de maneira coletiva pois a comunicação é igual entre os pares, mesmo quando os mesmos possuem níveis e tipos de conhecimento diferentes sobre uma mesma temática.

 

5Quando falamos de adaptação sociotécnica, estamos nos referindo à capacidade da tecnologia se adaptar às reais necessidades daqueles que a utilizam, devolvendo à tecnologia um real valor social.

No Brasil, o movimento agroecológico, composto por organizações acadêmicas, de camponeses/as e da sociedade civil, tem se preocupado com o processo de construção do conhecimento agroecológico (CCA) que se dá justamente a partir dessa articulação entre saberes acadêmicos e populares. Portanto, fala-se menos de inovação e mais de buscar saberes ancestrais capazes de explicar e trazer respostas para problemáticas atuais. Cotrim e Del Soglio (2016) explicitam alguns elementos como fundamentais para a CCA aconteça: a) Visão holística e sistêmica da ciência; b) Imersão nas relações sociais comunitárias; c) Construção social dos projetos e atores; d) Diálogo de saberes; e) Princípios ecológicos da agricultura; f) Mercado embebido nas relações sociais; g) Método participativo; h) Transição agroecológica e participação.

Para além dos elementos explicitados, o debate sobre a tecnologia é fundamental para consolidar cada vez mais os processos de construção do conhecimento agroecológico. A produção de alimentos necessita de novas tecnologias que possam: a) lidar com as problemáticas de degradação do solo, da água, do ar, entre outras; b) pensar formas de preservar as sementes crioulas e as raças nativas, garantindo a biodiversidade natural e garantindo que sejam os e as agricultoras e não o mercado quem define a produção; c) propor maquinários adaptados à produção agroecológica, sobretudo em pequenas propriedades rurais; d) facilitar a troca de experiências entre agricultores experimentadores da transição agroecológica; e) propor estratégias de conservação e recuperação do meio ambiente; f) enfrentar as mudanças climáticas e suas consequências.

Todas estas experiências são fomentadas e apoiadas por duas experiências universitárias importantes que são as Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCP) e os Núcleos de Estudos em Agroecologia (NEA). As fotos que ilustram este texto referem-se a uma experiência de transição agroecológica no município de Bonito (Pernambuco). A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal Rural de Pernambuco (INCUBACOOP-UFRPE), com apoio do CNPq, vem desenvolvendo desde 2016 um projeto amplo no município, incentivando a adoção da agroecologia. A universidade, em parceria com a prefeitura local, estimulou a criação da Associação Vida Agroecológica, composta hoje por 20 famílias de agricultores/as familiares que comercializa semanalmente produtos agroecológicos no Mercado da Vida. O trabalho que tem sido desenvolvido envolve consumidores/as, produtores/as, escolas, governo local e já gerou uma série de resultados importantes tais como a transformação da vida dos e das agricultoras, a criação de uma política pública municipal de agroecologia, a criação de uma escola de referência em Educação do Campo e Agroecologia, entre outras.

Esta experiência mostra como as universidades, a partir das ITCPs e dos NEAS, promovem a construção de uma ciência inclusiva, interdisciplinar, preocupada com o diálogo de saberes, entre outros aspectos, e sua ação tem transformado o cotidiano das universidades onde se instalam. As mudanças acontecem na formação de estudantes, na transformação de docentes, na criação de tecnologias em parceria com as famílias camponesas e portanto, representam aquilo que podemos chamar de inovação social (Moulaert, 2013). Para além disso, contribuem para a construção de experiências concretas nos territórios que transformam a vida das pessoas, gerando Soberania e Segurança Alimentar no mundo rural. Tais experiências, articulam ensino, pesquisa e extensão e dão o tom daquilo que podemos esperar das universidades do futuro.

Referências bibliográficas

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